Olhando bem, até parece uma edificação:
Tem pernas que parecem pilares.
Olhos que parecem janelas.
Certa vez, vi um edifício pós-moderno que parecia uma aranha.
Mas até então jamais havia visto uma aranha que parecia um edifício.
Mas hoje, sentado aqui nesta praça, achei uma dessas,
Pequenina, pendurada em um fio reluzente.
Cautelosa, foi-se aproximando de mim.
Temi, mas logo percebi que não era eu quem ela queria.
Sou grande demais. Certamente ela teria uma indigestão.
Mas outro pequeno artrópode, que pululava em minha camisa, era o alimento perfeito!
Num movimento rápido e mortal, a presa estava subjugada.
Envolta em movimentos frenéticos e harmoniosos, a aranha envolveu o pobre inseto,
Numa teia intransponível para qualquer um do seu tamanho!
Encantado pelos movimentos da natureza esqueci que a aranha parecia um edifício.
E retomando meu raciocínio, percebi outra relação.
A luta entre dois instintos: o da conservação da vida, contra o desejo de alimentar-se da mesma.
Na luta entre presa e aranha, percebi que a aranha virava o dorso pra baixo.
E com isto, suas pernas já não pareciam pilares, e sim edifícios.
Seus olhos já não pareciam janelas e sim faróis de automóveis.
E os sulcos de seu corpo bulboso, ruas e becos.
Sim, na luta por alimento e sobrevivência, a aranha se tornou CIDADE.
Junio Kostas