29/02/2008

POR UMA ARQUITETURA VIVA E DINÂMICA!

Certo dia um amigo perguntou o que eu achava que faria uma cidade ter uma 'vida' de arquitetura dinâmica, ativa.
Todos deveriamos nos perguntar isso como profissionais e cada um deve buscar, primeiramente em seu próprio conhecimento e depois em outros meios, as respostas a esse questionamento.
Vamos primeiro analizar quais são os elementos que definem a arquitetura...
Um dos principais elementos que a define é a Arte. E a arte está diretamente relacionada com a Cultura. Cultura de um local, cultura de um povo, enfim, todo um contexto em que vive uma determinada sociedade.
Para que exista uma arquitetura "ativa", essa "vida dinâmica" aí que o amigo mencionou, uma arquitetura que esteja representada principalmente por um colégio local, é necessário que exista um avanço cultural. É necessário que exista, acima de tudo, também, um PACTO. Digo, um pacto entre a sociedade e a arquitetura, ou melhor dizendo, entre a sociedade e os arquitetos. É preciso que se tenha uma idéia coletiva de que a arquitetura é fundamental pra cidade, está diretamente relacionada com sua existência e sua dinâmica cultural. Esse 'pacto' que falei anteriormente também deve existir entre a sociedade e sua cidade.
Geralmente se fala de "cidade" no âmbito urbanístico. Para muitos acadêmicos, cidade é coisa de urbanismo...porém, deve-se perder o mito de que é somente o urbanismo o responsável pela arquitetura da cidade. Quando se fala em imagem da cidade isso significa que cada prédio, cada edifício, cada casa é responsável ou pelo menos tem um papel determinante na imagem da cidade e essa "imagem da cidade" é responsável pelo tamanho do interesse cultural por ela. Então, nós precisamos, acima de tudo, ter a idéia de que quanto mais os arquitetos trabalharem junto com a sociedade no aperfeiçoamento de cada obra, de cada prédio, pensando na relação individual de cada um (edificio) na cidade, a arquitetura vai ter um significado maior pra sociedade que a produz. E esse significado maior significaria o reconhecimento do papel fundamental do arquiteto como um ente-catalizador do movimento cultural construído nessa cidade.
Sabemos que em paises desenvolvidos, como a Holanda, os arquitetos gozam do mesmo prestígio que advogados e médicos. Isso se dá pela relação de dependência da sociedade com o profissional que está habilitado, legal e culturalmente, pra projetar seus edificios. E esse reconhecimento vem sempre através de publicações, incentivos públicos e privados e, principalmente, da presença de uma mídia especializada (jornalismo, revistas, colunas, ensaios fotograficos etc). A sociedade européia apoia incondicionalmente seus arquitetos e faz deles um dos pilares da sua cultura.
Infelizmente pra nós, arquitetos em um país subdesenvolvido, essa realidade não existe. Nem sequer possuímos um orgão profissional próprio (e por que não dizer "apropriado", sim, falo aqui do sistema crea's/confea, que indubitávelmente não nos representa). O IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil) do meu estado fica numa sala deprezada num edifício do Crea/PA, onde encontrar um arquiteto alí é motivo de surpresa!
Como podemos, caros colegas, fazer uma sociedade nos apoiar e nos respeitar adequadamente se nem mesmo possuimos um local onde possamos nos reunir e conversar como profissionais do escalão da Arquitetura? Estaria eu pedindo muito? Ah, claro que não. Nós, arquitetos locais, não possuímos nenhum pacto entre nós...como podemos esperar um pacto com nossa sociedade, com nossa cidade, com nossos governantes e administradores públicos? Acredito muito que se cada prefeito, cada governador e cada presidente se unisse a um arquiteto inteligente e bem intensionado, os problemas desse país se reduziriam por mais que a metade!
Talvez demore muito pra possuirmos uma vida arquitetural local dinâmica e empolgante. Uma vida cultural de arquitetura que encha nossos olhos e dos nossos estudantes de alegria e esperança.
Desde que me formei a única coisa mais palpável em que me apoiei foi no estudo. E até hoje, com quatro anos de formação, tentando entrar num mercado inexistente e antropófago, consigo respirar no marasmo da arquitetura local com muito estudo e esperança (sim, ela ainda existe!).
Quando da vinda de um Premio Pritzker em nossa cidade (Alvaro Siza), depois que lhe foi perguntado como chegou a tal estatus na arquitetura e ele respondeu algo como "com trabalho e estudo", eu percebi claramente o caminho: estudo. Nunca deixe de estudar, estudar arquitetura, ler, conversar, transmitir e com isso exerce-la com dignidade. Eis aí o melhor legado que uma comunidade de arquitetos poderia deixar a uma sociedade.