21/10/2010

ESTRELISMO E ARQUITETURA - Caso 1: Le Corbusier






CHEGADA 2 *
Ainda em 1935 - doze anos de gestação da Cidade Radiosa, sapatinho de cristal desdenhado pelo consenso mundial -, Le Corbusier embarca para Nova York com a amargura acumulada de uma mãe solteira, ameaçando, depois de fracassadas todas as tentativas de conseguir uma adoção, deixar o enjeitado fantasmagórico à porta do pai natural e abrir um processo de paternidade.
Nenhum repórter o aguarda.
" 'Jacobs', perguntou Le Corbusier [ao intérprete que lhe designou o MOMA, patrocinador de sua viajem, na campanha para impor o verdadeiro modernismo aos EUA], 'onde estão os fotógrafos?' Jacobs [...] descobriu que os fotógrafos da imprensa a bordo estavam ocupados fotografando outras celebridades. Ele deu uma nota de cinco dólares a um jornalista e lhe implorou que tirasse uma foto de Le Corbusier. 'Já gastei todo meu filme', disse o fotógrafo, devolvendo o dinheiro. Mas, sendo um sujeito atencioso, ele clicou sua máquina vazia diante de Le Corbusier, que pareceu se acalmar". A atividade CP [1] registra fatos que não existem. Le Corbusier existe, mas não consegue ser registrado. Como se sofresse de uma maldição, Le Corbusier é tão invisível em Nova York quanto o pão de Dalí.
" 'Jacobs', perguntou ele várias vezes enquanto folheava os jornais... 'onde está a foto que tiraram de mim no navio?' "
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Notas:
* Retirado de Rem Koolhaas, Nova York Delirante, pág. 297.
[1] Atividade CP: Atividade Crítico Paranóica - Conceito criado por Salvador Dalí, como única forma possível de abordar a arte surrealista, e utlizado por Koolhaas para designar os processos de apreenção da cidade de Nova York por Dalí e também por Le Corbusier.