29/12/2008

RAUL RAMOS - Com ele se vai um pedaço da jovem e promissora arquitetura contemporânea de Belém.

Nunca pensei que fosse, tão cedo, escrever uma homenagem póstuma a um arquiteto da minha cidade. Nunca pensei que fosse logo para o Raul. Não somente por sua juventude, mas, principalmente, por que não o conhecia. Porém, acredito que as opiniões de quem você nem conhece sejam as que podem estar mais próximas da verdade, principalmente no que diz respeito aos elogios.
Mesmo não sendo próximo ou amigo de Raul Ramos, eu, como profissional de arquitetura e como alguém que leva a sério o ato de pensar, escrever e criticar Arquitetura, alguém que planeja fazer disso uma atuação constante e bem-sucedida em sua vida profissional, não poderia deixar de manifestar meus pêsames por essa perda e tentar escrever algumas linhas sobre ela, o que ela significa pra mim e o que deveria significar para a comunidade de arquitetos locais.
Quando iniciei o curso de arquitetura não demorou muito pra começar a buscar "meus he
róis", sim, aqueles que fazem a Boa Arquitetura e de certa forma servem de exemplo aos mais novos. Falávamos da Síntese. Falávamos de Raul (embora nosso círculo sempre falasse mais dos arquitetos europeus).
Lembro que na época a Síntese era a única empresa de arquitetura que eu respeitava. Tinha mesmo vontade de trabalhar lá. Por quê? Simples, porque lá se fazia a tal da Boa Arquitetura, não uma arquitetura genial ainda, mas uma arquitetura que, inteligentemente, se libertou dos antigos (e ainda atuais) modelos de edificação vertical, baseados em caixas de sapatos (que alguns colegas chamam vulgarmente de "feijão-com-arroz")
A Síntese praticava a ousadia. E a ousadia é o estopim para Arquitetura Genial! E afirmo seguramente mais: O Raul conseguiu arrastar toda a arquitetura de edificação vertical em
sua direção. Uns passaram mesmo a copiá-lo cinicamente. Outros, a negá-lo descarada e publicamente (lembro uma propaganda de uma construtora local que dizia: "Nosso nome não é uma 'Síntese'. Temos nome e sobre-nome!"). Resumindo, a arquitetura da Síntese, por conseguinte, de Raul Ramos, mudou o panorama da nossa produção local. Principalmente na área de edificação vertical.
Sendo Raul um arquiteto da nova geração e ainda muito novo (48 anos), perdemos um dos arquitetos que, com toda certeza, iria amadurecer mais e nos ajudar a recuperar o nosso passado rico em estética. Não que isso seja próprio de um "messias arquitetural", mas em talentos jovens, o processo de amadurecimento e consolidação de um estilo e estética conceitual é um processo natural, afinal, quem tem inteligência e genialidade, cresce com elas.
Lembro mais: de não ter visto um outdoor com o Raul a receber um prêmio ou mensão empr
esarial (que com certeza ele deve ter recebido). Porém, ja ví inúmeros arquitetos com trabalhos muito fracos (que passam até despercebidos) recebendo premiações de "revelações" e "arquitetos do ano" e semblantes cínicos estampados em outdoors pela cidade.
Alias, falando nisso, eu dificilmente vejo arquitetos que merecem esses prêmios os recebendo... Vejo até garotos que desmamaram ontem mencionados como "revelações empresariais do ano" em arquitetura, mas um Aurélio Meira, um Coelho Bassalo ou um Herlom Oliveira, dificilmente se vê. Isso prova que há algo de errado nesse meio que "promove" a "arquitetura" local. Quem é bom deve ser bom e aparecer o ano inteiro, e não somente de forma sazonal em premiações questionáveis! E Raul era um dess
es que deveria aparecer sempre, seja com trabalhos, seja com publicações.
Lamento por essa perda. Lamento verdadeira e profundamente.
Espero que os que aí ainda se encontrem, façam arquitetura não somente com seriedade. Mas, também, com filosofia, arte e ousadia!
Absorvamos esses legados caros amigos e leitores! Coloquemo-os na nossa história edificada e realizemos também a boa e genial Arquitetura.
Descansa em Paz Raul.
Que estejas ao lado de Deus em sua obra arquitetônica no universo.


















Kostas, 29 de Dezembro de 2008

26/12/2008

MINHA LUTA, TUA LUTA, NOSSA LUTA.

Eu luto por uma nova arquitetura para a cidade.
Eu luto por uma nova forma de pensar o espaço e seu invólucro.
Eu luto por uma arte que nos recupere o orgulho de morar e sermos cidadãos.


Foto: NOX - Lars Spruibroek

Eu luto por um novo skyline.
Eu luto por um "exterior design".

Eu luto por uma passeio pleno de admiração.


Foto: MVRDV

Luto pela ousadia de conceito.
Luto pela ousadia do desenho.
Eu luto pela ousadia de construção.


Eu luto por uma arquitetura como arte.
Eu luto por uma arquitetura como tradição.
E, se por ventura, encontrar-me sem armas à mão,
Usarei o pensamento, a palavra e a emoção.

Lute, irmão!
Aproveite tua oportunidade.
Estejas no mercado ou não,
Faças arquitetura com emoção!


Foto: Das-monsta - Philipp Johnson

"A estrutura foi feita pra sustentar; A arquitetura pra emocionar."
Le Corbusier