06/10/2009

FOTORREALISMO - necessidade ou banalização?

Observando o percurso do papel da ilustração na representação de arquitetura, não é dificil notar a incrível transformação que essa arte sofreu ao longo dos séculos. E ainda vem sofrendo, pois novas técnicas e recursos não param de surgir ou se transformar. Desde a representação em terra, passando pelo desenvolvimento da perspectiva, até a renderização de elementos 3d atuais, é certo que a manipulação da imagem sempre foi algo fundamental para o exercício do projeto. Mesmo vivendo na era da automação da produção da imagem, automação esta que é responsável por quase 90% da produção das imagens digitais, onde o artista na maioria dos casos apenas se dá ao trabalho de coletar uma determinada quantidade de texturas, quase todas realizadas por terceiros, e acumular tudo numa biblioteca dentro de um desses softwares de renderização, eu jamais deixei de admirar os trabalhos de artistas ilustradores de arquitetura que ainda realizam sua arte baseados no traço a mão livre, no recurso de técnicas de pintura ou mesmo utilizando o digital, mas de modo artístico e experimental. Creio que com as facilidades da renderização 3d, que se trata de um tipo de automação, houve uma banalização do fotorrealismo. Quanto mais "real' uma imagem parece ser, mais prostrados ficam arquitetos, clientes, publicidade, imobiliárias. Em pouco tempo surge a estandardização do produto e o mercado se limita a acomodar um tipo de varejo onde a arte e a poética ficam cada vez mais ausentes. Hoje em dia, a quantidade de "maqueteiros eletrônicos", "personal cadistas" e "designers" de renderização é avassaladora! Antes, a produção de imagem de projetos parecia ser terreno restrito de arquitetos e artistas visuais em busca de auto-afirmação num mercado exigente e promissor. Hoje, devido à automação, qualquer garoto curioso que domine um desses renderizadores 3d parece ser "master" no mercado. Todo mundo agora é designer, artista, etc. Parece que ficou fácil fazer maquete eletrônica, fotorrealismo (Já existe até culto à personalidade de maqueteiros digitais). Afinal, ficou fácil mesmo finalizar uma dessas artes. Não é preciso mais técnicas de desenho a mão livre, perspectiva cavaleira, três pontos etc. Apenas dominar um programa, paletas de seleção, paletas de orientação, aplicação de texturas, manipular filtros e efeitos etc. Grande parte do processo o programa faz pra você. Na contra-mão do fotorrealismo, muitos estúdios parecem desejar justamente o oposto. Criam maquetes e imagens que exigem algo da imaginação dos espectadores. Há experimentalismo e também a busca pela fidelidade das propostas. Podemos ver isso em muitas maquetes de escritórios contemporâneos, como MVRDV e NOX. Também mantendo-se na contra-correnteza da banalização da imagem fotorrealística, há sociedades de ilustradores de arquitetura, como a famosa American Society of Architectural Illustrations (Sociedade Americana de Ilustração de Arquitetura), sediada em Avondale, no estado do Arizona e que realiza a mais importante premiação dessa categoria, o The Hugh Ferriss Memorial Prize. De certa forma, atualmente em relação à ilustração de arquitetura, temos duas correntes fundamentais: O realismo, que apela ao mercado com o "ideal" de realidade, e o expressionismo, que produz imagens onde o subjetivo e o experimental se entrelaçam em resultados que agradam mais aos estúdios e a mídia especializada, que ao mercado imobiliário. Eu gosto de trabalhar com maquetes eletrônicas. Mas se o O.M.A. e o Peter Eisenman produzem imagens experimentais, e continuam realizando projetos e ganhando muita grana, eu posso facilmente dizer: às favas com o fotorrealismo!


MVRDV - Maquete eletrônica. Exemplo de renderização experimental.

NOX - Maquete eletrônica do Centre Pompidou em Metz.

MVRDV - Maquete de edicifios comerciais em Shenzhen.

OMA - Taipei Performing Arts Centre (um recado aos designers de maquetes: esse conjunto de imagens foi apresentado no concurso que deu o premio ao OMA por esse projeto).

Frank Constantino, membro da ASAI - Concert Hall